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domingo, 16 de agosto de 2015

Imperfeito graças a Deus



Ser perfeito, feito e acabado, sem que nada falte e nada possa ser acrescido. De tal forma todo feito por todo que qualquer mudança desfaz o feito e vira desfeito ou defeito. Tão lisa e regular a superfície e tão homogêneo o interior que são monotonia de forma e de cor e a beleza é tediosa. Mas os defeitos, os buraquinhos no âmago do ser, geram filigranas e rendilhados, e a luz sobre a textura surpreende e encanta tanto na forma original quanto pelo dançar das sombras e aparece a beleza do jogo na coisa em sí e na interação com a luz. As formas se dissolvem na plena escuridão ou na plena luz e isto por si só explica o Autor realizar o eterno jogo do vir a ser. Imperfeito sim, graças a Deus.

domingo, 9 de agosto de 2015

O Universo e o Ser

“Que gostaria de dizer em meu trabalho científico e filosófico, a minha principal preocupação tem sido com a compreensão da natureza da realidade em geral e de consciência em particular como um todo coerente, que nunca é estática ou completa, mas que é um processo interminável de movimento e desdobramento ....".
                                (David Bohm: Totalidade e a Ordem Implícita)










O universo existe. Nossa inteligência concebe isto e não o nega.
Alguns até já disseram que é tudo ilusão e não passa de um sonho. Se for um sonho existe um sonhador que por sua vez existe realmente em algum lugar. Denominemos isto ou aquilo de universo.
Existindo o universo ele é circunscrito em fronteiras ou é infinito?
Estando em constante transformação ao menos no nível percebido pelos nossos sentidos e assentido pelo intelecto nos níveis detectáveis por instrumentos de medida sabemos que não é estático. Constata-se também que está em expansão. Desta forma as coisas conhecidas que compõe o universo estiveram inicialmente concentradas em um volume relativamente pequeno do espaço. Se o universo for do tamanho do volume do conjunto de coisas que o compõe não é infinito. Então além de suas fronteiras há o que? Um vazio tamanho que poderia chegar à inexistência até mesmo do tempo e do espaço? Ou estaria imerso dentro de algo maior, até mesmo infinito do qual se criou por uma flutuação qualquer? Se bem que deveríamos considerar o paradoxo de flutuações necessitarem do conceito de tempo para serem definidas.
Que nome daríamos a este algo maior (muito maior) que o universo? Vazio, espaço, matriz? Isto possui extensão e seria infinito? Só se poderia dizer que é infinito se pudéssemos definir extensão como uma de suas propriedades. E como definir extensão se não definirmos uma estrutura, ou sua variação, mensurável. Se possuir estrutura imutável teria havido flutuações que permitissem o surgimento de nosso universo? Haveria neste caso tempo neste algo que poderia ser infinito? Este algo teria sido criado ou existiu por todo o sempre?
O fato é que concebemos os infinitos e os eternos da coisa ou do vazio em que se insere a coisa. Concebemos ainda a possibilidade hipotética da finitude temporal e espacial da coisa e um vazio sem forma e sem tempo em derredor, se bem que não alcançamos a essência deste vazio. É maravilha das maravilhas seres de extensão e duração infinitesimalmente pequenas conceber infinitos e eternos dos quais faz parte. A parte pode compreender o todo?
Há de se perguntar também se os seres viventes com inumerável variedade de inteligências existem também numa matriz primeva e fundamental. Memórias e processos intelectivos são armazenados nesta matriz? Ou são apenas sediados na matéria e em suas transformações químicas e estruturas? Se formos apenas um conjunto de reações químicas, estas reações químicas sabem, ou imaginam, que são apenas reações químicas que sentem medo de cessarem. Sentem amor, ódio, raiva, esperança, angústia e até imaginam. Criam até mesmo mundos imaginários que imprimem, ou animam quando não guardam para si. E isto em si já é algo espantoso.

A Inteligência acima de um limiar julga ter consciência de si mesma e do todo em que se insere. Ela percebe à medida que se desenvolve a dimensão relativa de sua existência e, assim, cada vez menos acredita ter respostas definitivas e perfeitas para as coisas. Não se contenta mais com querelas primitivas, quando baseadas em certezas e absolutos, tais como se há Deus ou não. Não afirma mais que isto ou aquilo é absurdo, pois vê o absurdo em tudo que existe. No limite tudo é impensável ou inimaginável. E o espanto prevalece.

Domum musarum


Quando aqui entrar entre com fome
Alimente-se de formas e cores
Abra a alma como se abrem os olhos
Inunde-se de luz

Zeca Diabo - 2015

Museu



Durante muito tempo pulei o muro para espiar. Construção imóvel e volátil. Curiosa ela, curioso eu que a espiava. Olhava pelas frestas da porta quando a deixavam entreaberta, pelos vidros das janelas ou por onde fosse permitido. Ouvia quem a visitava e suas falas, seus choros, seus risos. Já havia estado lá por vezes e sempre ficava tentado a entrar e participar dos ritos lá celebrados. Agora volto para a casa das musas e da poesia. Será que trago ainda angústias, amores, revoltas e intensidade suficientes para tributar o meu reingresso?

Zeca Diabo - 2015