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terça-feira, 15 de setembro de 2009

Geométrico

Ele estava sonhando, só poderia estar sonhando. Quando fora dormir estava tão deprimido em decorrência dos problemas cotidianos que tivera dificuldade para pegar no sono. Como podiam as pessoas arranjar tantos problemas e se digladiarem tanto por tão pouca coisa? Por mais que tentasse compreender não conseguia. Dormira e agora estava em uma paisagem estranha e impossível. Estava em uma praia de areias claras, mas não brancas, que tomava toda a extensão de uma baía bastante larga. A areia se estendia terra adentro por grande extensão num aclive muito suave e se transformava gradativamente num campo gramado que se perdia de vista até começar uma cadeia de serras azuladas pela distância. As cores e formas eram muito realçadas: o mar e o céu azuis, a areia creme, a relva verde e as montanhas azuis acinzentadas eram mais azuis, verdes ou claras que qualquer outra paisagem que havia visto.
Uma pequeníssima comunidade de casas muito brancas, quase todas aproximadamente cúbicas, com arestas bem definidas, se situava sobre o imenso relvado. Aquelas pequenas casas, todas térreas, pareciam não construídas, mas sim, recortadas de um bloco maciço formando um conjunto de aspecto uniforme. Mesmo as portas e janelas possuíam cantos, sem batentes, bem definidos. Não havia ninguém pelas ruas e eram muito estranhas aquela quietude e imobilidade universal sob um sol muito claro em um céu sem nuvens. Não havia nem vento nem pássaros. Senti-me em grande paz, numa alegria luminosa, conferida por uma luz natural que não feria os olhos, um ar fino e revigorante e uma temperatura tão adequada que não percebia a própria pele.
Em grande perplexidade e curiosidade percorri um caminho de cascalho branco até uma casa central localizada no que parecia ser uma praça. Esta casa era ligeiramente maior que as demais e poderia tanto ser um templo quanto um centro administrativo. Fui entrando por uma abertura sem porta não maior que as das portas comuns. A casa possuía apenas um ambiente e, assim como no exterior, todas as superfícies apresentavam a mesma cor branca e uma textura totalmente lisa, sem adornos, frisos, rodapés, nada. Assim que entrei presenciei a cena mais estranha que possa me lembrar. No centro da casa havia muitas pessoas. O número exato delas não era possível determinar, devido à própria condição em que se encontravam. Eram pessoas de todas as idades, raças e aparências: todos os tipos humanos estavam ali representados. Era um grupo de pessoas amontoado compactamente e não se via espaço entre elas. Mas não estavam de pé e nem mesmo paradas. Estavam sim amontoadas formando o que parecia ser um novelo e se moviam constantemente de forma que o embolado que formavam nunca tinha a mesma aparência. Aquilo me pareceu tão estranho e confuso que até a clareza geométrica do ambiente parecia ter se perdido pela minha falta de atenção a ela. Procurei então buscar a causa deste comportamento tão insólito e me aproximei um pouco. As pessoas estavam interagindo de todas as formas, mas, principalmente estavam se digladiando, disputando espaço para permanecerem mais à superfície do bolo. Inúmeras delas arranhavam, puxavam, empurravam e mordiam as outras e então percebi que umas acabavam tirando pedaços das outras num processo sem tréguas e sem pausa. De repente uma delas arrancou um olho de outra e com um fio de carne que pendia tentava atar as mãos da outra. Senti enorme horror pela situação, mas, mesmo assim não pude tirar os olhos das pobres criaturas ali presentes. Percebi chocado que não eram pessoas especiais ou incomuns, eram pessoas normais ali representadas. Não eram nem boas nem más segundo o senso comum e estavam ali vivendo simbolicamente suas vidas cotidianas.
Depois de ter visto tanta beleza e paz no caminho até aquele ambiente, o que proporcionara alívio e serenidade para minha alma tão torturada, não era justo presenciar aquela cena. A que me servia ter presenciado tanto horror e tristeza? Por que, meu Deus, tanto caos e despropósito na vida humana? A que atendiam nossos instintos reptilianos, nossas emoções de mamíferos e nossa pretensa razão humana se estavam a serviço desta eterna guerra despropositada? Quis sair dali, fugir, e não pude. Um torpor em minhas pernas e uma fixação forçada da minha atenção me obrigaram a continuar presenciando aquela cena dantesca. Para meu horror as pessoas começaram a ficar descarnadas e pedaços eram arrancados, lançados para fora do bolo e desapareciam. Por fim até os ossos foram lançados fora. O processo foi chegando ao fim e as pessoas foram desaparecendo, mudando de aparência na realidade, e ficaram agrupadas suspensas no ar inúmeras formas geometrias planas, ligeiramente luminosas e transparentes. Havia triângulos, círculos, elipses, quadrados, etc. de todas as cores e tamanhos em eterno movimento se tocando e colidindo. Agora não mais tiravam pedaços umas das outras, mas sim, sons puros e cristalinos de diversos timbres quando se entrechocavam suavemente. Uma suave melodia pairava no ar devido aos choques entre elas. Não uma melodia usual, mas aleatória e ao mesmo tempo regular, indefinível na realidade.
Até hoje não entendo o sonho que tive, mas me vem uma imagem Ele estava sonhando, só poderia estar sonhando. Quando fora dormir estava tão deprimido em decorrência dos problemas cotidianos que tivera dificuldade para pegar no sono. Como podiam as pessoas arranjar tantos problemas e se digladiarem tanto por tão pouca coisa? Por mais que tentasse compreender não conseguia. Dormira e agora estava em uma paisagem estranha e impossível. Estava em uma praia de areias claras, mas não brancas, que tomava toda a extensão de uma baía bastante larga. A areia se estendia terra adentro por grande extensão num aclive muito suave e se transformava gradativamente num campo gramado que se perdia de vista até começar uma cadeia de serras azuladas pela distância. As cores e formas eram muito realçadas: o mar e o céu azuis, a areia creme, a relva verde e as montanhas azuis acinzentadas eram mais azuis, verdes ou claras que qualquer outra paisagem que havia visto.
Uma pequeníssima comunidade de casas muito brancas, quase todas aproximadamente cúbicas, com arestas bem definidas, se situava sobre o imenso relvado. Aquelas pequenas casas, todas térreas, pareciam não construídas, mas sim, recortadas de um bloco maciço formando um conjunto de aspecto uniforme. Mesmo as portas e janelas possuíam cantos, sem batentes, bem definidos. Não havia ninguém pelas ruas e eram muito estranhas aquela quietude e imobilidade universal sob um sol muito claro em um céu sem nuvens. Não havia nem vento nem pássaros. Senti-me em grande paz, numa alegria luminosa, conferida por uma luz natural que não feria os olhos, um ar fino e revigorante e uma temperatura tão adequada que não percebia a própria pele.
Em grande perplexidade e curiosidade percorri um caminho de cascalho branco até uma casa central localizada no que parecia ser uma praça. Esta casa era ligeiramente maior que as demais e poderia tanto ser um templo quanto um centro administrativo. Fui entrando por uma abertura sem porta não maior que as das portas comuns. A casa possuía apenas um ambiente e, assim como no exterior, todas as superfícies apresentavam a mesma cor branca e uma textura totalmente lisa, sem adornos, frisos, rodapés, nada. Assim que entrei presenciei a cena mais estranha que possa me lembrar. No centro da casa havia muitas pessoas. O número exato delas não era possível determinar, devido à própria condição em que se encontravam. Eram pessoas de todas as idades, raças e aparências: todos os tipos humanos estavam ali representados. Era um grupo de pessoas amontoado compactamente e não se via espaço entre elas. Mas não estavam de pé e nem mesmo paradas. Estavam sim amontoadas formando o que parecia ser um novelo e se moviam constantemente de forma que o embolado que formavam nunca tinha a mesma aparência. Aquilo me pareceu tão estranho e confuso que até a clareza geométrica do ambiente parecia ter se perdido pela minha falta de atenção a ela. Procurei então buscar a causa deste comportamento tão insólito e me aproximei um pouco. As pessoas estavam interagindo de todas as formas, mas, principalmente estavam se digladiando, disputando espaço para permanecerem mais à superfície do bolo. Inúmeras delas arranhavam, puxavam, empurravam e mordiam as outras e então percebi que umas acabavam tirando pedaços das outras num processo sem tréguas e sem pausa. De repente uma delas arrancou um olho de outra e com um fio de carne que pendia tentava atar as mãos da outra. Senti enorme horror pela situação, mas, mesmo assim não pude tirar os olhos das pobres criaturas ali presentes. Percebi chocado que não eram pessoas especiais ou incomuns, eram pessoas normais ali representadas. Não eram nem boas nem más segundo o senso comum e estavam ali vivendo simbolicamente suas vidas cotidianas.
Depois de ter visto tanta beleza e paz no caminho até aquele ambiente, o que proporcionara alívio e serenidade para minha alma tão torturada, não era justo presenciar aquela cena. A que me servia ter presenciado tanto horror e tristeza? Por que, meu Deus, tanto caos e despropósito na vida humana? A que atendiam nossos instintos reptilianos, nossas emoções de mamíferos e nossa pretensa razão humana se estavam a serviço desta eterna guerra despropositada? Quis sair dali, fugir, e não pude. Um torpor em minhas pernas e uma fixação forçada da minha atenção me obrigaram a continuar presenciando aquela cena dantesca. Para meu horror as pessoas começaram a ficar descarnadas e pedaços eram arrancados, lançados para fora do bolo e desapareciam. Por fim até os ossos foram lançados fora. O processo foi chegando ao fim e as pessoas foram desaparecendo, mudando de aparência na realidade, e ficaram agrupadas suspensas no ar inúmeras formas geometrias planas, ligeiramente luminosas e transparentes. Havia triângulos, círculos, elipses, quadrados, etc. de todas as cores e tamanhos em eterno movimento se tocando e colidindo. Agora não mais tiravam pedaços umas das outras, mas sim, sons puros e cristalinos de diversos timbres quando se entrechocavam suavemente. Uma suave melodia pairava no ar devido aos choques entre elas. Não uma melodia usual, mas aleatória e ao mesmo tempo regular, indefinível na realidade.
Até hoje não entendo o sonho que tive, mas me vem uma imagem de pedras de rio, aquelas dos rios cristalinos que se tornam lisas por rolarem umas sobre as outras pela ação da correnteza de um rio que canta eternamente um hino de adoração ao fluir e ao transformar.
José Renato
2008