Sempre fui deficiente. Deficiente de coragem e abundante em medo. Tive medo do escuro e seus monstros imaginários, medo da morte e seus mistérios e horrores, medo da escola na figura dos outros, medo da rejeição dos amigos e namoradas, dos primeiros e últimos empregos, do fracasso, medo do todo e medo do nada.
Sempre fui deficiente. Deficiente de sabedoria e bom senso. Julguei errado as pessoas e situações. Adotei posturas e ações equivocadas e tolas. Falei muita tolice quando pretendi falar sério. Tomei muitas vezes o caminho errado julgando ser o certo.
Sempre fui deficiente. Deficiente de inteligência. Percebi mal o mecanismo do mundo. Interpretei mal as ações das pessoas e seus sentimentos. Modelei errado o meu papel no mundo. Todos os frutos do meu pensamento foram obtidos com enorme dificuldade e foram frustrantes.
Sempre fui deficiente. Deficiente de sentimentos. Sempre procurei o amor dos outros e nada achei. Desconsiderei o meu guardado onde nenhum outro alcança e acessa. Confundi todos os tipos e espécies de amor, troquei uns pelos outros. Troquei a sua plenitude pelo vazio da fome.
Sempre fui proficiente. Abundante em más ações e piores reações. Rico em mágoas remoídas, mastigadas e guardadas avaramente. Repleto de desejos e anseios malsãos. Cheio de vícios e compulsões. Sempre célere em julgar, sentenciar e penalizar.
Hoje que sei o que fui, o que sou e talvez o que serei não consigo me colocar acima do mais baixo dos seres humanos. Busco, com sucesso relativo, dar o braço ao sujo e ao roto para andarmos juntos. E não sei mais quem está ajudando quem.
José Renato, 21/08/2009
Um texto pleno de sentimento e generosidade. Para reflectir...
ResponderExcluirBeijos.
Belíssimo texto! Denso, intenso. Obrigada.
ResponderExcluirUm abraço, com saudades.
P-E-R-F-E-I-T-O!!! Me idenfiquei muito com o texto. Bj.
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