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Este deverá ser um espaço onde amigos compartilhem suas criações e as discutam. Se desejar entre em contato para discutirmos o desenvolvimento do blog e participações. delbenbr@hotmail.com

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O fantástico mundo de Bob

Um gato acaba de pular do meu inconsciente.
Uma imagem que não é nada eficiente.
Penso que meu cérebro é deficiente
Quando acabo de estar catatônico

O mundo não é nada faraônico
Será que estou tomando biotônico?
Ou, talvez, estou ficando afônico.
Meu Deus! Onde está o meu pé?

Acho que eu perdi a fé.
Só quando não tomo café.
Será que estou com chulé?

Será que fui comovente,
No meu poema nada canônico?
Um dia eu compro um coupè.


Luiz Plaça

sábado, 25 de abril de 2009

Encarnação

Para se batizar uma criança deve-se deixá-la mamar em seio farto e depois levá-la para mijar na terra e deixar que ela beba vento.

José Renato
25/04/2009

Infinito


Há uma ponta na meada?
Então há outra doutro lado.
O fio é finito.

Há um c(um)e hierarquico?
Então há uma quadra-base.
A pirâmide é finita.

Mas...

Onde todo nome desaparece.
toda definição esvanece,
o senso comum é absurdo.

Não há substantivos
predicados, pronomes.
Só há verbos.

Todos os verbos são um.
E tudo se submete a tudo

Tudo é e está sujeito

Uuuhhhhhmmmmmmmmmmmm.....

]
José Renato
25/04/2009

terça-feira, 21 de abril de 2009

Escrever

Escrever? Porque?

Por nada.

Escrever? Para que?

Para nada.

E o nada?

É tudo o que resta.

E já é alguma coisa

E preenche o todo.

E nos completa.


José Renato
23/04/2009

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Labirinto


Helga era uma menina loirinha de cabelos compridos sempre em duas tranças às vezes enroladas no topo da cabeça. Vivia em uma fazenda afastada bem ao norte, região com muitas florestas e montanhas e muito frias. O povo daqueles ermos tinha muitas histórias que se contavam às crianças para evitar que se aventurassem dentro da floresta ou se afastassem muito de suas casas e acabassem se perdendo ou sendo vítimas de animais selvagens. Mas Helga era uma menina muito curiosa em sua grande afetuosidade por gente e bichos. Por estas coisas era muito corajosa e vivia se aventurando nos limites entre as regiões conhecidas e as mais selvagens, sempre à busca de entender os seres vivos e interagir com eles.
Corria por aquelas terras a lenda sobre um monstro que habitava dentro da floresta densa ao norte. Surgira porque sempre que o vento norte soprava trazia sons de urros ferozes. Tão ferozes eram, desesperadamente ferozes, que quando começavam os trabalhadores no campo abreviavam suas jornadas em busca do abrigo de seus lares e suas esposas e filhos os aguardavam ansiosamente trancados. O dia seguinte sempre era de poucas conversas com todos mostrando em suas posturas e fisionomias um alheamento pensativo como se ainda estivessem ouvindo dentro de si aqueles sons, menos Helga.
Helga não tinha lugares tristes do passado onde aqueles sons pudessem fazer eco dentro dela e achava simplesmente que era um animal selvagem agindo de forma natural. Tinha medo, mas o natural frente a uma força superior à sua, o mesmo que teria defronte a qualquer outro animal selvagem. Era sempre a última a chegar em casa nestes dias e ficou muitas vezes de castigo por isto. Mas suas qualidades e falta de medo sempre a faziam se aventurar um pouquinho mais longe.
Um dia, quase às vésperas de completar doze anos, estava passeando pela orla da floresta num dia cheio somente de sons alegres de pássaros e insetos. Foi então que no canto de sua visão avistou um animalzinho branco que não conseguiu identificar porque correu rapidamente para dentro do mato. Ela o seguiu para ver melhor o que era e continuo seguindo durante certo tempo pensando que toca do bichinho estava próxima e não teria problemas em seguir um pouco mais. Mas não conseguiu alcançar o animal e logo viu que não podia continuar e resolveu voltar. Tomou o caminho de volta, segura que logo estaria fora, mas estava demorando demais para chegar à borda da floresta. Não se preocupou pensando ter entrado só um pouquinho mais que devia e que a qualquer momento veria a luz do campo aberto. Este momento demorou a chegar e ela estava começando a se preocupar quando os urros da fera da floresta começaram. Um arrepio gelado partiu de sua nuca, se espalhou por todo o corpo e ficou residindo na boca do estômago. Mas, atrevida, se controlou e continuou na sua busca de uma saída, afinal os urros pareciam estar vindo de muito longe. Depois de certo tempo viu uma trilha e se encheu de esperanças, pois onde há um caminho deve haver uma saída. Mas pouco tempo depois o caminho se bifurcou e foi obrigada a escolher um deles e seguir em frente. Para seu desespero isto aconteceu diversas vezes até que teve a certeza que se encontrava perdida. Os urros da fera se mantinham sem parar em diversos tons e alturas ainda ao longe e um sentimento de desespero e fatalidade foi tomando conta de Helga. Sentou-se desconsolada e chorou alto e nisto os urros pareceram se tornar mais angustiados. Ela parou então assustada achando que a fera podia estar ouvindo o seu choro. Sabia que morreria de fome se parasse a espera de ajuda, ninguém entraria ali para procurá-la. Continuou andando então como único recurso de salvação.
Andou por horas e os sons de fúria e desespero de tanto martelar tomavam conta de seus pensamentos substituindo a razão por irritação e pavor. Já não conseguia escolher os caminhos claramente e tomava aqueles nos quais os urros pareciam menos assustadores. Andou, andou até anoitecer quando exausta escolheu um oco em uma grande árvore onde se encolheu toda e acabou adormecendo quando o cansaço venceu o pavor. Foi um sono cheio de pesadelos nos quais se angustiava para entender o que diziam os urros. Neles tinha certeza que tinha necessidade de entendê-los.
Acordou cansada e tomando consciência da sua situação começou o dia chorando novamente no que a fera fez-lhe coro urrando com aparência de desespero. Começou a andar novamente, mas agora a floresta parecia estar cheia de caminhos que se encontravam e se desencontravam formando um labirinto. Ela tinha então que decidir a toda hora que caminho tomar. Mas, engraçado, parecia que o som da fera era diferente em cada caminho escolhido. Em uns parecia mais raivosos e em outros mais sofridos, raivosos ou desesperados. Mas um ou outro eram sempre terrivelmente assustadores e Helga tinha que decidir sempre se enfrentava a ira ou o desespero. Escolhia então na hora que chegava à bifurcação segundo o que lhe parecia menos desagradável. E assim foi até cerca de meio-dia quando a floresta passou a ficar mais densa e escura e os urros pareciam estar mais próximos. Isto tornava o seu medo maior e ela passou a apressar o passo tentando fugir, mas como num sonho parecia que ia ao encontro daquilo de que queria fugir. Quanto mais próximo pareciam os urros, mais distintos ficavam e então às vezes pareciam apenas um choro desesperado e em outras também de pura revolta. Helga começou a achar que talvez a escolha dos caminhos nos quais os sons pareciam menos desagradáveis poderia estar levando-a para perto do monstro, mas ainda assim não conseguia fazer uma escolha diferente e estava fadada a encontrá-lo, desesperou-se. A tarde avançava já para o seu fim e os urros começaram a parecer apenas vozes ferozes de dor, revolta, medo, expressas em gritos e palavras horríveis e Helga achou que no fim acabaria se confrontando com uma criatura desumanizada, uma humana fera selvagem e possivelmente assassina. Seguia agora como um robô aceitando fatalisticamente a sua sorte e a sua morte. Quando o dia já estava terminando os sons começaram a mudar rapidamente se tornando apenas um choro desesperado misturado a pedidos de ajuda, misturados com palavras de revolta. E ao por do sol a floresta se abriu em uma pequena clareira com uma grande árvore no centro sob a qual se encontrava um menino mais ou menos da sua idade chorando solitariamente em imensa tristeza. Todo o medo de Helga se esvaneceu em pena, tristeza e comiseração. Aproximou-se lentamente do menino e foi vista. O menino continuou chorando enquanto ela se aproximava, mas agora em tristeza calma e com um sorriso nos lábios. Quando ela deu a mão ele disse – “que bom que me encontrou”. Ao que ela respondeu – “você me obrigou”. Depois disto conversaram coisas de criança até adormecerem. Ao amanhecer buscaram e encontraram uma saída da floresta não sem dificuldades, mas não havia mais choro e ranger de dentes. Havia tempo agora até para observar os pequenos animais da floresta.
Décadas depois sentados em suas cadeiras de balanço na varanda voltada para o norte e para a floresta ainda pareciam ouvir muito ao longe um urro quando o vento soprava daquela direção. O que tinha naqueles labirintos das florestas geladas do norte que aprisionavam o choro das crianças misturando-o nas trilhas e transformando em urros e imprecações? E porque após décadas pareciam ouvi-los ainda?


José Renato Delben

20/04/2009

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O pirata e o tesouro




Na proa dos barcos reconhecemos
os ventos tropicais.
Um cais torna-nos marinheiros
de um destino sem remorsos.
Ninguém põe em causa a perfeição
do vôo das gaivotas nos corpos dos meninos
que rebolam, pela areia, a inocência do olhar.
Há uma rota, plural de outras rotas,
que pressente naufrágios a poente dos afectos.
Sal que vicia os lábios e magoa
como um punhal de sede.
Braço de água-doce
comprometido com um mar inacessível.

Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997




Saíra na tenra idade para enfrentar procelas. Não queria a calmaria. Gostava da luz pagã que descia das nuvens em estrondo. Gostava do trovão. Thor, torrente de luz violenta e fugaz. Foi ser marinheiro. No mar enfrentaria tormentas e zombaria do vento e das ondas. Buscaria tesouros e botins e os gastaria entre ruídos, gritos e risos. Enfrentaria calmarias e tormentas, percorreria mil distâncias para momentos de trovão e glória. Nada, nem ninguém, o impediria de sugar da vida tudo que ela pudesse dar. Arrogante frente aos homens e orgulhoso frente a Deus, amealhou riquezas e gastou-as todas, cada momento finda-se em si. Percorreu os sete mares, os mil pesares,os cem mil prazeres e seguiu em frente.
Mas num dia estranho em que o céu estava límpido e o mar estava calmo viu uma escuna ao longe. Que construção mais elegante, que bordejar a barlavento e a sotavento tão precisos e despretensiosos! Parecia tão bem construída para o mar que o mar a acariciava conduzindo-a a bom porto. Devia ser uma nau do rei. Encantado e cobiçoso a perseguiu. Pois que tesouros não poderia conter? E a cada bordejar delicado, enquanto a seguia, mais se encantava.
Por fim a alcançou. E depois de luta feroz durante a qual nunca sentira tanto medo a tomou de assalto. O medo não era do insucesso, mas sim de ferir e destruir tanta beleza e elegância. Mas a cobiça do belo e do valor falou mais alto e invadiu seu convés exigindo rendição. A tripulação daquele navio, nobre de condição e de espírito, não ofereceu resistência, a não ser a pacífica, e viu até bondade onde só havia fúria. Entregou seus tesouros guardados no porão. O Pirata embevecido pelo seu entorno de finos entalhes e adereços do navio não viu a principio o tesouro que estava sendo saqueado e transportado para o porão do seu navio.
Terminado o glorioso embate retornou vaidoso da sua vitória para seu navio. E o achou pavoroso. Tinha sido conquistado no espírito. Invadira de maneira cruel e inconseqüente e fora invadido pela beleza e suavidade da outra nau. Que lugar feio o que vivia. Mas a legião dos seus asseclas exigiu que o tesouro amealhado fosse levado como premio da glória conquistada e ele sem forças atendeu.
Mas ele não era mais o mesmo Pirata, havia mudado. Como capitão de seu navio foi conferir o tesouro roubado. E que surpresa! Quanto ouro e pedras preciosas! Mas não eram moedas ou objetos grosseiros que haviam sido feitos para que cobiçosos juntassem riquezas em seus cofres, parede e aposentos disfarçados de arte. Eram objetos tão belos feitos por artistas que não só tinham conhecimento da arte com amor por ela. E uma dor imensa confrangeu-lhe o peito. Como poderia gastar aquele tesouro sem derretê-lo em lingotes ou moedas? E o belo? O maior valor daquele tesouro não era o ouro e as pedras, mas a finura de sua constituição, e gastá-lo seria corrompê-lo. Passou semanas recluso em sua cabine e na sala do tesouro. Meditou, pensou, ponderou e decidiu. Iria guardar aquele tesouro em lugar seguro e protegido, esconde-lo de tal forma que nenhum dos outros Piratas do seu navio pudesse achar. Percorreu as Antilhas, o mar do Japão, da China e do Pacífico sul até achar a ilha mais deserta, inóspita e árida na sua busca. Encontrou.
Capitão e senhor absoluto de seu navio e da Legião que o acompanhava, como até então achava, descobriu que só o fora pelo consentimento de seus asseclas. Enquanto fizera a vontade deles fora senhor, mas descobriu que escravo também fora. E a Legião queria gastar todo o tesouro nos bares das Antilhas e Tortuga. A partir deste momento ficou só de tornar-se uma ilha inóspita e deserta afastada de toda a civilização, já não fazia parte da turba e não tinha mais companheiros. Então apelando pela cobiça e imediatismo da tripulação convenceu-os de que tamanho tesouro só dificultaria a navegação rápida e a caça de outros botins. Poderiam voltar depois para buscá-lo quando tivessem juntado bastante para gastar com excessos. Transportaram todo o tesouro para aquela ilha deserta e o enterraram no solo arenoso tão quente que lhes queimava os pés e as mãos. Mas no Pirata queimava a alma.
No dia seguinte foram-se para a imensidão azul. Todos olhavam à frente nas suas tarefas em grande buliço ansiando por mais aventuras, Menos o Pirata. Ele ficou na popa olhando para traz.

Sábado


O dia da criação

(Vinícius de Moraes)


Assombrosa coincidência! Aqui onde moro e tomo solitário a minha taça de vinho ... é sábado. E o universo invade e me assombra. E a cicatriz de onde Me tomaste uma costela arde em fogo.

José Renato, 04/04/2009, sábado