O Universo e o Ser
“Que gostaria de dizer em meu trabalho científico e filosófico, a minha
principal preocupação tem sido com a compreensão da natureza da realidade
em geral e de consciência em particular como um todo coerente, que nunca é
estática ou completa, mas que é um processo interminável de movimento e
desdobramento ....".
(David
Bohm: Totalidade e a Ordem Implícita)
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O universo existe.
Nossa inteligência concebe isto e não o nega.
Alguns até já disseram
que é tudo ilusão e não passa de um sonho. Se for um sonho existe um sonhador
que por sua vez existe realmente em algum lugar. Denominemos isto ou aquilo de
universo.
Existindo o universo
ele é circunscrito em fronteiras ou é infinito?
Estando em constante transformação
ao menos no nível percebido pelos nossos sentidos e assentido pelo intelecto
nos níveis detectáveis por instrumentos de medida sabemos que não é estático. Constata-se
também que está em expansão. Desta forma as coisas conhecidas que compõe o universo
estiveram inicialmente concentradas em um volume relativamente pequeno do
espaço. Se o universo for do tamanho do volume do conjunto de coisas que o
compõe não é infinito. Então além de suas fronteiras há o que? Um vazio tamanho
que poderia chegar à inexistência até mesmo do tempo e do espaço? Ou estaria
imerso dentro de algo maior, até mesmo infinito do qual se criou por uma
flutuação qualquer? Se bem que deveríamos considerar o paradoxo de flutuações
necessitarem do conceito de tempo para serem definidas.
Que nome daríamos a
este algo maior (muito maior) que o universo? Vazio, espaço, matriz? Isto
possui extensão e seria infinito? Só se poderia dizer que é infinito se pudéssemos
definir extensão como uma de suas propriedades. E como definir extensão se não
definirmos uma estrutura, ou sua variação, mensurável. Se possuir estrutura
imutável teria havido flutuações que permitissem o surgimento de nosso universo?
Haveria neste caso tempo neste algo que poderia ser infinito? Este algo teria
sido criado ou existiu por todo o sempre?
O fato é que concebemos
os infinitos e os eternos da coisa ou do vazio em que se insere a coisa.
Concebemos ainda a possibilidade hipotética da finitude temporal e espacial da
coisa e um vazio sem forma e sem tempo em derredor, se bem que não alcançamos a
essência deste vazio. É maravilha das maravilhas seres de extensão e duração
infinitesimalmente pequenas conceber infinitos e eternos dos quais faz parte. A
parte pode compreender o todo?
Há de se perguntar
também se os seres viventes com inumerável variedade de inteligências existem
também numa matriz primeva e fundamental. Memórias e processos intelectivos são
armazenados nesta matriz? Ou são apenas sediados na matéria e em suas
transformações químicas e estruturas? Se formos apenas um conjunto de reações
químicas, estas reações químicas sabem, ou imaginam, que são apenas reações
químicas que sentem medo de cessarem. Sentem amor, ódio, raiva, esperança,
angústia e até imaginam. Criam até mesmo mundos imaginários que imprimem, ou
animam quando não guardam para si. E isto em si já é algo espantoso.
A Inteligência acima de
um limiar julga ter consciência de si mesma e do todo em que se insere. Ela
percebe à medida que se desenvolve a dimensão relativa de sua existência e,
assim, cada vez menos acredita ter respostas definitivas e perfeitas para as
coisas. Não se contenta mais com querelas primitivas, quando baseadas
em certezas e absolutos, tais como se há Deus ou não. Não afirma mais que isto
ou aquilo é absurdo, pois vê o absurdo em tudo que existe. No limite tudo é
impensável ou inimaginável. E o espanto prevalece.
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